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Como evitar Riscos Biológicos (Contaminação) no seu consultório?

Biossegurança com ARPO®SYS Compact

Inovação tecnológica no cuidado com instrumentais e descontaminação do consultório odontológico

Por: Eridon Araujo

“A descontaminação do local de trabalho tem por objetivo principal evitar que o mesmo venha a se tornar uma fonte de contaminação por agentes biológicos”.

NR 32 – Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde – Riscos Biológicos

Risco Biológico

Considera-se Risco Biológico a probabilidade da exposição ocupacional a agentes biológicos (microrganismos). Neste caso o dentista, assistente e pacientes estão constantemente expostos a agentes biológicos presentes no consultório.

Consideram-se agentes biológicos os microrganismos, geneticamente modificados ou não.

Esses agentes são capazes de provocar danos à saúde humana, podendo causar infecções, efeitos tóxicos, efeitos alergênicos, doenças autoimunes e a formação de neoplasias e malformações.

Exposição ocupacional

A exposição ocupacional a agentes biológicos decorre da presença desses agentes no ambiente de trabalho.

A exposição ocupacional pode ocorrer de forma não deliberada, ou seja, sem que essa implique na manipulação direta do agente biológico. Por exemplo, sofremos exposição a microrganismos com intenção não deliberada quando tratamos do paciente; quando manipulamos instrumentais em processos de limpeza; quando praticamos procedimentos de limpeza e desinfecção de superfícies e equipos. Ou seja, estamos em risco ocupacional constante em nosso ambiente de trabalho.

Agentes biológicos são amplamente encontrados no ambiente natural e, como resultado, são encontrados em muitos setores de trabalho, em especial nos serviços de reprocessamento de produtos para saúde (ex: tratando o paciente, manipulando instrumentais na sala de esterilização). Agentes biológicos incluem, por exemplo, bactérias, fungos, vírus e tem grande potencial para causar disseminação, contaminação e consequentes problemas de saúde, caso sejam negligenciados.

Como microrganismos são invisíveis, muitas vezes é difícil avaliar os riscos que eles apresentam. O trabalhador que manipula produtos para saúde está constantemente exposto a riscos biológicos como:

  • ser infectado por um agente biológico,
  • disseminação de microrganismos para o ambiente,
  • estar exposto a toxinas produzidas pelo agente biológico,
  • ter reação alérgica ao agente biológico ou substâncias que o mesmo produz, por exemplo, enzimas.

Como é sabido, microrganismos têm a capacidade de se multiplicar rapidamente, requerem recursos mínimos para sobreviver e podem infectar em doses muito pequenas.

No local de trabalho, a exposição a agentes biológicos pode ocorrer de forma não intencional, onde ficamos expostos ao agente biológico devido ao trabalho que realizamos, por exemplo, tratando o paciente, manipulando produtos para a saúde (instrumentais e artigos) contaminados nos processos de preparo dos materiais, no transporte, pré-limpeza ou limpeza.

Tendo em conta a atividade, o risco de exposição deve ser reduzido para um nível tão baixo quanto necessário, a fim de proteger adequadamente a saúde e a segurança dos trabalhadores em causa.

Fontes de exposição e reservatórios

As fontes de exposição incluem pessoas, animais, objetos ou substâncias (ex: soluções detergentes de limpeza) que abrigam agentes biológicos, a partir dos quais torna-se possível a transmissão a um hospedeiro ou a um reservatório.

Reservatório: é a pessoa, animal, objeto ou substância no qual um agente biológico pode persistir, manter sua viabilidade, crescer ou multiplicar-se, de modo a poder ser transmitido a um hospedeiro.

Exemplos de fontes de exposição e reservatórios de microrganismos

  • objetos: artigos, instrumentais, acessórios etc.
  • substâncias: solução em cubas e lavadoras ultrassônicas preparadas para a limpeza de   artigos e instrumentais (ex: detergentes comuns, detergentes enzimáticos, outros que podem se contaminar).
  • pessoas: dentista, assistente, paciente.
  • objetos: artigos, instrumentais, acessórios.
  • superfícies: equipos, bancadas, móveis, maçanetas de porta, teclados de computador, outros.

Via de transmissão e de entrada direta de microrganismos

Transmissão do agente biológico sem a intermediação de veículos ou vetores. Exemplos: transmissão aérea por bioaerossóis, transmissão por gotículas e contato com a mucosa dos olhos.

Via de transmissão de entrada indireta de microrganismos

Transmissão do agente biológico por meio de veículos ou vetores. Exemplos: transmissão por meio de mãos, artigos e instrumentais cirúrgicos contaminados, superfícies, perfuro cortantes, luvas, roupas, vetores, água e outros.

Transmissibilidade, patogenicidade e virulência do agente contaminante

  • Transmissibilidade é a capacidade de transmissão de um agente a um hospedeiro.
  • Patogenicidade é a capacidade do agente biológico causar doença em um hospedeiro suscetível.
  • Virulência é a capacidade do agente invadir, manter-se e proliferar, superar as defesas e, em alguns casos, produzir toxinas.

Persistência do agente microbiológico no meio ambiente. Um grande problema!

A Persistência do microrganismo é a capacidade de o agente contaminante permanecer no ambiente, mantendo a possibilidade de causar doença. Por exemplo, a persistência prolongada no ambiente de bactérias multirresistentes ou ainda, vírus da hepatite B ou hepatite C, quando comparada àquela do vírus HIV. Alguns microrganismos podem permanecer por tempos prolongados no ambiente ou instrumentais aumentando a possibilidade de disseminação e contaminação. Isto acontece facilmente quando um procedimento (ex: higiene de mãos, limpeza ou descontaminação de instrumentais e superfícies) falha, por desconhecimento do usuário ou por aplicação incorreta do procedimento ou do agente químico (ex: agentes químicos de limpeza e desinfecção em uso inadequado).

A persistência (capacidade dos microrganismos sobreviverem aos procedimentos aplicados) é um fator importante na avaliação do risco de exposição e de proteção de pacientes, do dentista e assistentes.

A disseminação de microrganismos tem sido demonstrada através de um simples processo de limpeza incapaz de eliminar agentes contaminantes (Kramer A, Schwebk I, Kampf G. How long do nosocomial pathogenes persist on inanimate surfaces? A Systematic review. BMC Infect Dis 2006;6:130 / Exner M. Divergent opinions on surface disinfection: myths or prevention? A review of the literature. GMS Krankenhaushyg Interdizip 2007;2. Doc 19) .

Evidências demonstraram que processos de limpeza deficientes, levaram a problemas de contaminação não só por germes multirresistentes mas também por Micobactérias de Crescimento Rápido (MCR). Isto obrigou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) a rever a prática de tais processos no Brasil e publicar novas regulamentações para garantir que processos posteriores como desinfecção e esterilização fossem mais eficazes. (Pitombo, Marcos Bettini, Lupi, Otília and Duarte, RafaelSilva. Infecções por micobactérias de crescimento rápido resistentes a desinfetantes: uma problemática nacional?.Rev. Bras. Ginecol. Obstet., Nov 2009, vol.31, no.11, p.529-533. ISSN 0100-7203 / Viana-Niero C, Lima KV, Lopes ML, Rabello MC, Marsola LR, Brilhante VC, et al. Molecular characterization of Mycobacterium massiliense and Mycobacterium bolletii in isolates collected from outbreaks of infections after laparoscopic surgeries and cosmetic procedures. J Clin Microbiol. 2008;46(3):850-5 / Cardoso AM, Martins de Sousa E, Viana-Niero C, Bonfim de Bortoli F, Pereira das Neves ZC, Leão SC, et al. Emergence of nosocomial Mycobacterium massiliense infection in Goiás, Brazil. Microbes Infect. 2008;10(14-15):1552-7 / Duarte RS, Lourenço MC, Fonseca Lde S, Leão SC, Amorim EdelL, Rocha IL, et al. Epidemic of postsurgical infections caused by Mycobacterium massiliense. J Clin Microbiol. 2009;47(7):2149-55)

Água e sabão, detergentes comuns ou detergentes enzimáticos podem limpar removendo carga orgânica (sujidades) mas não eliminam microrganismos (carga microbiana) podendo ser responsáveis pela geração de meio de cultura, biofilme, contaminando novamente artigos e o ambiente.

Evidências comprovam que, além de não eliminar microrganismos, detergentes comuns e detergentes enzimáticos, por exemplo, tornam-se excelentes meios de cultura, em especial para bactérias Gram negativas (ex: Pseudomonas aeruginosa e germes multirresistentes) que se multiplicam facilmente em meios líquidos ou em superfícies úmidas.

Em 1997, um estudo conduzido por Chan-Myers, Mcalister e Antonoplos, para determinar a natureza e nível de carga microbiana de artigos rígidos com lúmens antes e após a limpeza com detergente enzimático, evidenciou o problema de geração de meio de cultura e crescimento de microrganismos em solução de detergentes enzimáticos.

Tais evidências, com o uso desta prática, revelaram um grande aumento da carga microbiana sobre os artigos já no processo de limpeza (Chan-Myers, H; Mcalister, D; Antonoplos, P. Natural bioburden levels detected on rigid lumened medical devices before and after cleaning. American Journal Infection Control. 1997;25:471-476).

Em 1999, um estudo similar a este foi realizado por Chu et al, onde a carga microbiana dos instrumentos cirúrgicos após o uso variou entre 0 e 4.415 UFC / artigo, destes 26% tinham uma carga microbiana maior que 102 e 12% uma carga microbiana maior que 103; após a limpeza com detergente enzimático a carga microbiana variou entre 0 e 5.156 UFC / artigo, destes  33% apresentaram carga microbiana de 102 e 13% apresentaram carga microbiana maior que 103. Os microrganismos recuperados dos instrumentos após o uso foram os cocos Gram positivos e bacilos Gram positivos. Após a limpeza foram detectados Staphylococcus spp e Gram negativos não fermentadores (Stenotrophomonas spp e Pseudomonas spp) (Chu, N.S. et al. Levels of naturally occurring microorganisms on surgical instruments after washing. American Journal Infection Control 1999; 27(4):315-319).

Manter os artigos imersos em detergente enzimático, por exemplo, por mais tempo do que  o recomendado pelo fabricante, não garante uma limpeza melhor, mas ao contrário, o ambiente formado cria condições ideais para o crescimento de microrganismos se for considerado que as proteínas (enzimas) podem ser usadas como fonte de energia pelos microrganismos (Pajkos ,A; Vickery, K; Cossart, Y. It’s the biofilm accumulation on endoscopes tubing a contributor to the failure of cleaning and decontamination. Journal of Hospital Infection 2004; .58: 224-229).

Devido a tais evidências, além da exigência dos testes de atividade enzimática e registro para detergentes enzimáticos, a ANVISA, através da RDC Nº 55 – Novembro/2012, determinou que o rótulo dos detergentes enzimáticos contenha obrigatoriamente a seguinte informação: “UTILIZAR IMEDIATAMENTE APÓS O PREPARO. A REUTILIZAÇÃO DA SOLUÇÃO DE LIMPEZA PODE PROVOCAR PERDA DA EFICIÊNCIA, e ainda poderia se acrescentar CONTAMINAÇÃO DA SOLUÇÃO EM USO, visto que este fato já é amplamente comprovado. Portanto, detergentes enzimáticos são classificados hoje como produtos de uso único não devendo as suas soluções serem utilizadas por mais de uma vez (Agencia Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. RDC Nº 55 de 14 de novembro de 2012. Detergentes enzimáticos).

Portanto, quando pensarmos em estabelecer um programa e aplicação eficiente de procedimentos associados ao uso correto de substâncias químicas no controle de contaminações no consultório odontológico (Biossegurança) devemos considerar que a persistência (não eliminação de microrganismos) pode resultar em sobrevida de microrganismos que acabam sendo disseminados dentro do consultório, comprometendo o tratamento, a segurança de pacientes e colaboradores.

Descontaminação do consultório odontológico (Biossegurança)

A descontaminação do local de trabalho tem por objetivo principal evitar que o mesmo venha a se tornar uma fonte de contaminação por agentes biológicos.

Medidas para o controle de riscos

As medidas para o controle de riscos na trajetória entre a fonte de exposição e o receptor ou hospedeiro tem por objetivos:

  • Prevenir ou diminuir a concentração e disseminação dos agentes biológicos no ambiente dentro do consultório ou na clínica;
  • Planejar e implantar processos e procedimentos de recepção, manipulação e transporte de materiais(artigos e instrumentais), visando a redução da exposição aos agentes contaminantes (microrganismos);
  • Reduzir a concentração do agente contaminante no ambiente;
  • realizar procedimentos de higienização e desinfecção do ambiente, dos artigos, instrumentais e dos equipamentos;
  • realizar procedimentos de higienização e desinfecção das vestimentas.

Conclusão

Hoje, dentro das modernas práticas do controle de contaminações e infecções (Biossegurança) no consultório odontológico, o ideal é que procedimentos e soluções químicas em uso sejam práticos para aplicação e tenham não só a capacidade de limpar mas também de eliminar microrganismos, com o intuito de evitar ou reduzir o risco de sobrevida e disseminação de microrganismos que podem contaminar pacientes, dentista e assistentes.  

Eridon Araújo

CEO e pesquisador da empresa Profilática. Higienista com especialização no uso de substâncias químicas em processos de Limpeza, Descontaminação, Desinfecção, Esterilização e Antissepsia, dentro e fora do Brasil, com a experiência de mais de 30 anos na área da Saúde, em especial Controle de Infecções e Biossegurança.

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